terça-feira, 31 de março de 2009

SAUDADE


VC FAZ MUITA FALTA
AUSÊNCIA SENTIDA
QUE DÓI LÁ NO FUNDO
QUEIMA
E ME PEGA DESAVISADA
SEM O TOQUE DAS SUAS MÃOS
ACORDO ANTES DO SOL
SAUDADE
SÓ SAUDADE

SENSUALIDADE

AMO


Amo o que em ti há de trágico. De mau.
De sublime. Amo o crime escondido no teu andar.
A tua forma de olhar. O teu riso fingido
e cristalino.

Amo o veneno dos teus beijos. O teu hálito pagão.
A tua mão insegura
na mentira dos teus gestos.
Amo o teu corpo de maçã madura.

Amo o silêncio perpendicular do teu contato
A fúria incontrolável da maré
nas ondas vaginais do teu orgasmo.

E esta tua ausência
Este não-ser que é

[Manuela Amaral]

LUTA


Na paixão de um homem, na inquietude
das feras, no vermelho
que o fio da lâmina provoca
o olho acostumado a perscrutar
as máscaras, as almas, o que não se confessa.

Na origem profunda do ser
Onde tudo começa
na sua luta contra o tempo
e contra a natureza

em tudo há o desgaste
em tudo o conflito se apresenta
raiz do ataque e defesa
há o mar, a fúria do mar
e a força da rocha que o enfrenta.

[Bruna Lombardi]

domingo, 29 de março de 2009

PORVIR


Deve haver alguma espécie de sentido, ou o que virá depois?

[Caio F. Abreu]

sexta-feira, 27 de março de 2009

INVENTOS



Você sabe como eu sou despreocupada, que me encerro neste quarto e me permito todas as divagações, as fantasias, obsessões, perseguições. Todos os dias você sabe que eu me viro de inventos, que eu me reparto e dou crias que eu mal me resolvo e me agüento... Carrego pedras no bolso e enfrento ventanias.

[Bruna Lombardi]

SOLIDÃO





É tão dificil

Ficar mais uma noite sem você

Esperando o tempo todo sem saber

Se você vem pra que eu não fique sem te ver

É tão dificil

Esperar o telefone que não toca

Você suavemente abrir a porta

E me dizer com o coração estou aqui

É tão dificil

Segurar mais uma noite a solidão

Mentir prá convencer meu coração

Que você vem prá me dizer um sim ou um não

É tão dificil

Querer e não poder te esquecer

Vivendo simplesmente por viver

Sozinho aqui a espera de você

[®Renan Torres]

terça-feira, 24 de março de 2009

SEGREDA-ME

Recolhe o meu corpo que vagueia no mar
Nele escreve palavras
Pronuncia os suspiros que te libertam
Curvada deita-me sobre as ondas que as tuas mãos desenham
E segreda-me todas as histórias sem fim

[ Madalena Palma]

domingo, 22 de março de 2009

DESEJOS


Que me venha esse homem depois de alguma chuva, que me prenda de tarde em sua teia de veludo, que me fira com os olhos e me penetre em tudo.
Que me venha esse homem de músculos exatos, com um desejo agreste, com um cheiro de mato.
Que me prenda de noite em sua rede de braços, que me perca em seus fios de algas e sargaços.
Que me venha com forca, com gosto de desbravar, que me faça de mata pra percorrer devagar.

Que me faça de rio pra se deixar naufragar.
Que me salve esse homem com sua febre de fogo, que me prenda no espaço de seu passo mais louco.

[Bruna Lombardi]

DOMINGO SEM SOL


De quem é esta saudade
que meus silêncios invade,
que de tão longe me vem?
De quem é esta saudade,
de quem?
Aquelas mãos só carícias,
Aqueles olhos de apelo,
aqueles lábios-desejo...
E estes dedos engelhados,
e este olhar de vã procura,
e esta boca sem um beijo...
De quem é esta saudade
que sinto quando me vejo?

[Gilka Machado]

sábado, 21 de março de 2009

DONA


PARA VIVER UM GRANDE AMOR,
PRIMEIRO É PRECISO
SAGRAR-SE CAVALHEIRO
E SER DE SUA DAMA POR INTEIRO

[VINICIUS DE MORAES]

VONTADE


Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo e tanto medo.
Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho.
Esse, simples mas proibido agora: o de tocar no outro.
Querer um futuro só porque você estará lá, meu amor.
O caminho de encontrar num outro humano o mais humilde de nós.
Então direi da boca luminosa de ilusão: te amo tanto.
E te beijarei fundo molhado, em puro engano de instantes enganosos transitórios - que importa?

[Caio F. Abreu]

sexta-feira, 20 de março de 2009

PECADO



TE QUERO VADIA
VADIANDO E SE PERDENDO
NOS ACHADOS DO MEU CORPO
QUERO O NOSSO AMOR SE ESVAINDO, SAINDO...
PELAS FRESTAS DA JANELA
INVADINDO RUAS
E QUE AMANTES LOUCOS
ATRAVÉS DOS TEUS GRITOS E SUSSURROS
SE EXCITEM E ENLOUQUEÇAM MUITO MAIS TE OUVINDO...
É ASSIM QUE EU QUERO


QUERO TUA BOCA
TEU CHEIRO, TEU SUOR ESCORRENDO
QUERO QUE VOCÊ SEJA A FEBRE DO MEU CORPO
QUE TUA LINGUA QUENTE, TEUS DEDOS
FEITO AÇO CORTE, SANGRE MINHA CARNE
QUERO TEU PEITO INTEIRO
TODO EM MINHA BOCA
VOCÊ EMPURRANDO EM MIM
ESTOU ENTREGUE A ESTE AMOR
QUE O SAGRADO E O PROFANO
SEM REGRAS ACONTEÇAM ENTRE NÓS
QUE TODOS OS PECADOS SEJAM FEITOS
QUE O NOSSO PRAZER SEM LIMITES
DESRESPEITE TODAS ÀS LEIS
DO MUNDO, DE DEUS E DO DIABO
QUE VC FAÇA DE MIM ESCRAVO
E QUE EU TE FAÇA SUBMISSA
É ASSIM QUE EU QUERO
ESTOU ENTREGUE

[®Renan Torres]

ELE


Ele era um homem assim que carregava uma faca
por atração por esse lado da vida
e eu sonhava um hotel com quartos conjugados
e um vinho tinto de estalar no dente.

Ele tinha um olhar forte mas que de repente fugia
curiosidade de tudo e eu tinha
aquele olhar das meninas, o encanto
a malícia, a avidez e nenhuma disciplina.

Talvez eu prometesse coisas, insinuasse
naqueles dias de calor, e não via isso
como nada grave e nem sofria

Talvez ele tivesse a alma torturada
a face esquerda prometida, um
mistério que me fascina

Era um homem e tinha a cara
que o peso da vida lhe dava.

[Bruna Lombardi]

quarta-feira, 18 de março de 2009

LENÇÓIS DE LINHO



O CULTO DA PAIXÃO TEM MAIS SABOR QUE PITANGA ROUBADA E MINHA ALMA DISSOLUTA, DISSIMULADA, MISTURA AO VINHO UMA IDÉIA DE ME JOGAR EM LENÇÓIS DE LINHO OU NO MAR.

[BRUNA LOMBARDI]

MAR...MAR



Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.

Preciso que uma proa atravesse a carne
cá dentro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrônica
e pensa no mar.

[Marina Colasanti]

terça-feira, 17 de março de 2009

PRISIONEIRA


Ela se derrama cada vez
Que você a chama
Diz que deixou sem resposta
Tentadoras propostas
E sente um calor na coxa
Toda vez que o vê
Ela é louca por você
Ela anda tão carente
Toma dreher de manhã
Diz que se sente
Tonta e desatenta
Completamente apaixonada
Diz que não lhe importa mais nada
A casa pode ruir
Pode explodir outra guerra das malvinas
Ela pensa em coisas muito femininas
Como o perfume de cashemere bouquet
Ela é louca por você
Não sai da cama no feriado
Inventa um resfriado
Como bombom, vê tv
Tudo porque você
Disse que ia estar ocupado
Mas ela fica tão deprimida
Quando lê nas cartas que existe
Uma outra mulher na sua vida
E ela que sonhou uma vida aventurosa
Tem uma crise nervosa
E passa a misturar bebida
Toma vodka, whisky, saquê
Rum, gim e fernet
Um panaché de licores
Ela é capaz de tudo por você
Escreve uma carta de despedida
Onde te dá um ultimato
Ou você vem ou eu me mato

Assinado: tua Dolores."

[Bruna Lombardi]

AUSENTE


GUARDO O TEU SILÊNCIO
PORQUE DELE VEM O ENCONTRO TEU DE SI MESMO
AS NOTAS DELE, NO ENTANTO, ME ATINGEM,
EMUDEÇO E ENTRISTEÇO JUNTO COM ELE
SEM A TUA VOZ
SEM AS TUAS PROMESSAS DE PRAZER SEM FIM,
NÃO POSSO SER FELIZ

segunda-feira, 16 de março de 2009

POEMA



Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplendida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas,
folhas dormindo o silêncio
a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
insustentável, único,
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das cisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério
- E o poema faz-se contra a carne e o tempo.

[Herberto Helder]

AMO


Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando
a volta ao mundo.
(...)
Assim,
te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
(...)
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta dele
seu beijo.

[Adélia Prado]

domingo, 15 de março de 2009

SAUDADE




Lembro-me de ti
Nesse instante absoluto,
A vida conduzida por um fio de música.
Intenso e delicado, ele vai-nos fechando num casulo
Onde tudo será permitido.

Se é só isso que podemos ter,
Que seja forte. Que seja único.
Tão íntimo quanto ouvirmos a mesma melodia,
Tendo o mesmo - esplêndido - pensamento.

[Lya Luft]

URGÊNCIA







O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a úmida trama.
E para repousar do amor, vamos à cama.

[Carlos Drummond de Andrade]

sábado, 14 de março de 2009

MAR...VERMELHO


E o deus que entrou em nosso quarto
era vermelho e feminino e eu tive um medo de excitação
desses que a gente prende a respiração
deseja e teme e os opostos se tocam
sempre e sempre
há de vencer nosso pior.

Somos assim, pequenos magos
pequenos truques, pequeninas plumas sulférinas
coisinhas que cintilam
esferas, estrelas, espelhinhos
cartas dentro da manga, lenços coloridos
tudo em nós flutua
é sonho, abstração.

A tua fé e o meu desejo de pecado
caminham lado a lado e são
tudo que nos escraviza
nosso futuro, nosso passado
a nossa libertação.

[Bruna Lombardi]

TU


Tu pedes-me a noção de ser concreta
num sorriso num gesto no que abstrai
a minha exatidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.

Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.

Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.

Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.

[Natalia Correia]

CONTRADIÇÃO



Eu sou uma mulher espantada
o amor me molha toda
me deixa com dor nas costas
ele diz no fundo gostas
no fundo ele tem razão



o amor tinha de ser
mais uma contradição
tinha de ser verdadeiro
confuso e biscateiro
como em toda situação

tinha de ter remorso
e um querer e não posso
e toda essa aflição
tinha de me dar pancada
e eu cantar não dói nem nada
com um radinho na mão

tinha de fazer ameça
que é pra poder ter mais graça
como toda relação
tinha de ser dolorido

rasgar um pouco o meu vestido
depois me pedir perdão
e como em todo melodrama
terminar na minha cama
até por falta de opção.

[Bruna Lombardi]

VACUIDADE


Não são avisadores de memória que te trazem a mim
Nem gestos, palavras, cheiros, aromas ou melodias
Não é nas palmas das mãos que vejo o teu rosto
Ou nos olhos fechados que sinto os teus beijos
É na ausência que sinto o quanto te quero
É na vacuidade que sei os contornos do teu corpo
É na falta que sei que nunca posso angustiar-me
Porque estás sempre inteiro no meu sorriso
E para isso basta tão só viver

[Madalena Palma]

sexta-feira, 13 de março de 2009

LIBERDADE


INVENTO O MAR
VENTOS CONTRÁRIOS
ME DESCUBRO
NÃO ME FAÇO RIO
ME DESGARRO...
QUE ME VENHAM ENCANTOS
VENENOS, SEGREDOS, OLHARES
E QUE ME PRENDAM
LIBERDADE, DÁ-ME...

O QUE É MAR?



"Mãe, o que é que é o mar, Mãe?" Mar era longe, muito longe dali, espécie duma lagoa enorme, um mundo d´água sem fim, Mãe mesma nunca tinha avistado o mar, suspirava. "Pois, Mãe, então mar é o que a gente tem saudade?"

[Guimarães Rosa]

quinta-feira, 12 de março de 2009

VOCÊ, MAR.


Morrer de amor ao pé da tua boca
Desfalecer à pele do sorriso
Sufocar de prazer com o teu corpo
Trocar tudo por ti se for preciso


[Maria Teresa Horta]

DISTÂNCIA


Eu olho você grande e distante
e da sua grandeza me comovo
e da sua distância me revolto.
Olho de novo.
Procuro reter em minhas mãos sua figura
mas ela gesticula, oscila e cresce
e numa inconstância distraída
no instante exato
por trás da vida desaparece.
Um desacato.
Do meu desaponto eu me levanto
pra levar embora outro desencanto
mas você me divisa e então me chama.
Me aguarda, reclama e me convida
e minha vida nessa ansiedade por fim entrego.
E nesse amor feito de espuma colorida
nós flutuamos: você borbulha, eu escorrego,
ensaboados, você explode, eu me desintegro.

[Flora Figueiredo]

PRISIONEIRA


Você me acorda no meio da noite
e eu que navegava tão distante
cravada a proa em espumas
desfraldados os sonhos
afloro de repente entre as paradas ondas dos lençóis
a boca ainda salgada mas já amarga
molhada a crina
encharcados os pêlos
na maresia que do meu corpo escorre.
Cravam-se ao fundo os dedos do desejo.
A correnteza arrasta.
Só quando o primeiro sopro escapar
entre os lábios da manhã
levantarei âncora.
Mas será tarde demais.
O sol nascente terá trancado o porto
e estarei prisioneira da vigília.

[Marina Colasanti]

quarta-feira, 11 de março de 2009

ALMA



E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras liquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

[Hilda Hilst]

CEREJAS


Cerejas, meu amor,
mas no teu corpo.
Que elas te percorram
por redondas.

E rolem para onde
possa eu buscá-las
lá onde a vida começa
e onde acaba

e onde todas as fomes
se concentram
no vermelho da carne
das cerejas...

[Renata Pallottini]

CONFISSÃO


eu minto, confesso
me faço de boba, verdade
escondo a idade, me calo,
me sinto tão mal, um inferno
represento um papel, principal
sou mesmo uma atriz, infeliz
quem diz que eu não quero, eu consigo
viver por um triz, enlouqueço
te esqueço e te mato, te amo
atrás de um muro, qualquer
outro dia amanheço, de novo
e falo bobagens, pudera
não sou tão sensata, avisei
sem nada de mais, me despeço

[Martha Medeiros]

MANHÃ


O corpo pede um drink:
pode ser martini
Na manhã que chega,
estranha e solitária,
sou mulher também.
Mas, ontem à noite,
o corpo pediu um toque
da língua, nos gelos
que estavam
perdidos no copo.

[Antoniella Devanier]

INVENÇÃO


DEPONHO
SUPONHO E DESCREVO
A PULSO
SUBINDO PELA FÍMBRIA
DO DESPIDO
PORQUE NADA É VERDADE
SE EU INVENTO
O AVESSO DAQUILO QUE É VESTIDO

[MARIA TERESA HORTA]

terça-feira, 10 de março de 2009

VESTIDO DE AMANTE


No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem a minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.

[Adélia Prado]

DESATINO



Eu não sabia o que fazer, e abri a blusa.
Mais tarde eu ia dizer: foi sem pensar.
Ele me achou desnorteada, confusa,
Como acharia qualquer mulher que abre a blusa
E faz tudo que eu fiz só pra agradar.

Minha cabeça não era mesmo muito certa.
Mulher esperta eu nunca fui, mas deveria
Saber me colocar no meu lugar.
Não adiantava nada, eu era assim desatinada,
O tipo de mulher que faz as coisas sem pensar...

Você agora, me ouvindo contar essas histórias,
Talvez me ache também um pouco confusa.
E eu, que faço tudo pra agradar,
Já sem saber o que fazer, abro minha blusa,
Como faria qualquer mulher confusa em meu lugar!

[Bruna Lombardi]

domingo, 8 de março de 2009

QUANDO?


... e então quando vens?
para ver o sol nascer doce e morrer salgado de tanto mar?
quando vens mergulhar nas
lembranças do tempo...
esse tempo que insiste em passar?
quando vens trazer um pouco do mundo
aqui onde nem as horas passam?
Aqui os dias se estendem dourados
sob o azul claro do céu...
... as ondas batem calmas,
quebrando o silêncio que é só meu...
em tudo é fácil de ver uma poesia...
[em tudo há poesia]
[em tudo brota poesia]

hoje o mar não quis revelar-me nada
enquanto pensei em ti e entardecia...
como despertas essa saudade
[e todos os meus segredos?]
como me fazes falta mesmo
que só para estar ao meu
lado em silêncio?
que dom é esse, meu poeta,
capaz de acordar milagres...
tenho saudades, tenho vontades...
{então te espero}

[Cáh Morandi]

PENSAMENTOS



Vou contar ao mar do meu amor.
Vou dizer ao vento
O quanto em você penso
E vou pedir
Que te diga da minha saudade.

Vou pedir ainda,
Que ele toque em você
Que te acaricie
Com seus dedos invisíveis
Pra me trazer após
Um pouco do seu perfume.

E quando ele voltar,
Vou fechar os olhos
Pra imaginar
Que você está aqui.

Vou esperar depois
Que as ondas me contem de você,
Que me digam seus dias
E a expressão dos seus olhos...
E se em algum momento
Pensa um pouquinho em mim...

Ai vou me sentar nas pedras,
Feito adolescente,
Olhos fixos no horizonte,
Peito cerrado,
Cheio de esperança
De ver você chegar.

[Letícia Thompson]

CEGUEIRA


Você está tão perto
... te sinto tão longe
Nem mãos de corpo
Nem mãos de alma
Te alcançam...

É como ter um mar inteiro para beber
Com os olhos.

[Cáh Morandi ]

sábado, 7 de março de 2009

PALAVRAS


Lancem-me ao mar
às ondas do vento
para que eu possa tocar
as profundezas do tempo

joguem meus sonhos no ar
às estrelas do momento
para que eu possa ficar
preso nas ondas do vento

e se o ouvirem soprar
em noites de luar sem fim
podem colher junto ao mar
poemas nascidos de mim

palavras que são de olhar
de ver tudo o que contemplo
palavras que são de amar
o mar, as ondas, o vento...

[Jorge@ntunes]

RENDO-ME


Rendo-me ao improvável navegante
de minhas águas
marés ignoradas.
Rendo-me
ao que nunca me abraça
ao barco que passa além
e seus olhos de não ver ressacas e remanços
areia de palavras, decorada
que espalho, de tempos em tempos.
Rendo-me ao vento inocente dos dias
que apaga o sonho, ao passar
e leva o aroma dos beijos
e leva quem amava para outro e longe mar.
Rendo-me à ardente constância das águas
presas nestes meus olhos
e à abstinência dos sentidos
nestes frios lençóis, perdidos.
Rendo-me
e me sufocam os bordados
e as flores tristes
à espera do navegante para sempre longe
destas rendas que, de amor,
teci.

[Saramar]

SAUDADE


Sempre vai ser meu mar... grande, perfeito.
Sua presença, forte em mim...
Sentir seu gosto, ficar no seu abraço.
De tudo, tirar o pouco, muito para mim.
Nesses momentos em que penso em você, me bate a saudade, uma vontade de ficar perto.
Te espero todo dia.

sexta-feira, 6 de março de 2009

DESEJO


Meu corpo, teu porto
Meu suspiro, te chama
Meu gemido, te arrasta pra mim...
Em direção ao meu fogo
Ao meu desejo intenso

Faz a tempestade que mereço
Lambe a espuma que guardo e te ofereço
Tuas ondas me cobrem e desfaleço
Traz-me à tona pro recomeço

Deixo adormecer meu desejo
Nesse silêncio cansado
Que me envolve
Nesse suspirar calado
Que me comove
E me incendeia a carne

Mas acordo cheia de beijos
Teu suor me cobrindo
Teu mar me invadindo
Me solto dos remos
Meu porto, um só corpo, seremos

(Paty Padilha e Bernadette]

MORADA


Morar com você
Na Ilha do Corvo
Pequena ilha, cheia de sol
Ruas estreitas, nossa casa como pano de fundo o mar
No meio do Atlântico
Acordar, adormecer
E perto de você.
Olhares, tato, doces
E amor demais...

VOCÊ EM MIM, MAR



Ele quis juntar o mar que continha
Retesado, encerrado em seu corpo
Com o campo fértil
Que meu corpo floria

E sempre ia a procura
E encontrava o girassol girando girando girando
Esperando
As ondas para flutuar

No dourar dourava-me
Transbordava cheiro de mangue
No aroma das rosas
Em brasa
[Regina Romeiro]

VEM...


"VEM, ENTÃO, E ME LEVA DE VOLTA PARA O LADO DE LÁ DO OCEANO DE ONDE VIEMOS OS DOIS."
[CAIO F. ABREU]

CHEIRO A MAR


…que quero que seja submerso.
Envolto num manto doce de momentos, memórias, silêncios e com sabor a sal e cheiro a mar.
Dias calmos e tranquilos, cheios de sorrisos cúmplices e pés frios da areia ainda gelada.
Apetece-me descansar, deitar-me a dez metros do mar, onde as ondas se confundem com o surrurro dos poemas.

[Madalena Palma]

quinta-feira, 5 de março de 2009

SINTO MAR


FECHO OS OLHOS
E VEJO MAR, E SINTO MAR...
SALGADO-DOCE
ASSUSTADORA ATRAÇÃO
QUE NOS AFOGA NUM SORRISO

SENDO PULSANTE VIDA

PROFUNDA TRANSPARÊNCIA
REFLEXO DO CÉU
FRÊMITO
ESCURO-SORRISO

PRINCÍPIO E FIM

CALMARIA E ABISMO
FONTE DO SONHO
NOITE-MANHÃ!

[Maria Petronilho]

DESTINO


Dizem que és traiçoeiro,
À noite tens um quê esquisito.
Acesso ao teu todo é interdito,
Mar, gigante de ares faceiros.

Eu te amo meu belo selvagem.
Sincera é, por ti, a paixão,
Como por Cristo é a devoção,
Nos olhos d’alma tenho tua imagem.

No teu seio barcos são arvoredos,
Abrigas personagens rudes
E vidas que ganham altitudes.
És um poço de segredos.

[...]
Amas os cabelos e meus seios,
Jardim onde depositas flores
De conchas que causam rubores
Com o atrevimento dos meneios

Jogando-me na areia deitada
Olhando a orla misteriosa
A quem me curvo respeitosa.
Ó dia, ó hora abençoada,

Tens um manto de talhe fino
Verde-esmeralda de cetim,
Falando de ti dou tudo de mim,
Amar-te é o meu destino.

[Maria Hilda de J. Alão]