domingo, 4 de outubro de 2009

REBELDIA

Gosto do mar desesperado
a bramir e a lutar
E gosto de um barco ainda mais ousado
Sobre esta rebeldia a navegar.

[Miguel Torga]

MINHA FANTASIA

Desejo o seu olhar entrando ferozmente na minha ânsia
Com a certeza de não perdê-lo entre outros amores
fisgo esse momento inacabável
Na carne caliente a dançar emoções,
a devorar com a velocidade os despudores,
pequenos tabus já não mais existentes,
- voadores -
pois a liberdade clama e o prazer sacode
o ápice de um tempo completo:
seu sexo minha fantasia,
nossos prazeres em voltas socializadas
através de um tempo lençol de delírios
em que reina a permissão da felicidade.

[Alexandre Lucas/Eliane Alcântara]

POEMA INCANSÁVEL

Meu corpo pertence aos poemas que tua língua escolher
e meus gozos aos delírios que tuas mãos abrigarem
no ninho que nos ditar a vida, nestes estranhos caminhos.
Tu és moldura que pede os olhos meus,
curva do tempo na qual quero deitar minhas ânsias
e ser mulher, dona deste inverno quente
em que acolhes meus lábios aos teus
e mordes meus seios criando ternura,
alimentando teus vícios, saciando-te a alma.
Venho pela pureza que desconhece os tolos,
Pelo prazer que sabe os que amam,
Pela meiguice que de tão simples
Faz-se misteriosa na simplicidade de tudo.
Cativa-me em tua lucidez,
Recolhe-me em tua sede, cuida-me em teu entendimento.
Hei de ser-te favo e colméia, doce e trabalho.
Inscreva-me em tua pele e te serei perigo e trilha segura
Nos campos em que brotam orquídeas
Quando a carne solícita homenageia o amor.

[Eliane Alcântara]

DO QUE ME VISTO PARA TI

No fundo nem sei se sou fruto, se sou pecado, se sou santa do mal encapuzado. Não tenho gosto de maracujá, mas tenho cheiro no corpo todo, nos cabelos, no andar. Sou açaí, sou pitanga amarga, sou manga doce, sou tudo "como se fosse" e no fundo nem o que ousas imaginar...
Sou mais do sentir, sou mais do tocar... Sou como a palavra dificil e feia, mas que tem um significado bonito e que só o nome é esquisito de se falar.
Não sei do que me visto para ti, se de verso ou se de rima, se de fruta ou fantasia; mas no fundo ser o que sou (e desconheço) me fascina, porque posso provar o gosto selvagem da vida em sua seiva que em mim germina.

[Cáh Morandi]

MAR

...
Eu te quero meu mar, imenso e inteiro.
Destino a tuas mãos, meus remansos.
E se te afastas, ou se tentas
a mais doída liberdade,
se foges ao encanto que hora lanço,
hás de voltar, hás de vir
leve ou violento.
Pois que, sendo eu, sem ti,
um deserto,
és meu vento de desatinar.

E não foge o vento de sua sina,
nem o mar de onde quer se deitar,
Leves, violentos.

[Saramar]