terça-feira, 16 de junho de 2009

RASTROS


Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fosse
de vento
Volto então
ao teu joelho
entreabrindo-te as pernas
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas

[Maria Teresa Horta]

DEPOIS...


Depois de ter você,
Pra quê querer saber que horas são?
Se é noite ou faz calor?
Se estamos no verão?
Se o sol virá ou não?
Ou pra quê é que serve uma canção como essa?
Depois de ter você,
Poetas para quê? Os deuses? As dúvidas?
Pra quê amendoeiras pelas ruas?
Para quê servem as ruas?
Depois de ter você...

[Adriana Calcanhotto]

TU


... Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse
(favas douradas sob um amarelo)
assim te apreendo brusco.
Inamovível, e te respiro inteiro
Um arco-íris de ar em águas profundas...


[Hilda Hilst]

MEDIDA








Que seja o teu querer
a exata medida do meu:
somente amanhecer
por saber que o gosto de nós
ainda nos cobre por lençol
e que todas as palavras
com todas as suas curvas
jamais descreveriam
as minhas nas tuas

[Antoniel Campos]