quinta-feira, 25 de junho de 2009

ELE...


Vou contar o que ela vê nele:

(...) ela vê uma serenidade rara e isso é mais importante do que o Porsche que ele não tem (ou que tenha), ela vê que ele se emociona com pequenos gestos e se revolta com injustiças, ela vê uma pinta no ombro esquerdo que estranhamente ninguém repara, ela vê que ele faz tudo para que ela fique contente (...) ela vê que ele erra, mas quando acerta, acerta em cheio, que ele parece um lorde numa mesa de restaurante mas é desajeitado pra se vestir, ela vê que ele não dá a mínima para comportamentos padrões, ela vê que ele é um sonhador incorrigível, ela o vê chorando, ela o vê nu, ela o vê no que ele tem de invisível para todos os outros(...)

[Martha Medeiros]

MADRUGADA


Este teu jeito de morder devagar
os pensamentos que sabes que eu tenho
é que apavora meu lado carente
e seduz minha volúpia ao teu alcance.
Esta mania de não dizer tudo
e mostrar mais do que deduzo
é que faz com que eu seja pura,
verdade sacana no laço de teu abraço.
Estes sussurros úmidos em meus ouvidos
e a língua tua em minha pele
é que assedia e atiça minha ternura,
alvoroço para comer-te deus.
Este teu adeus que é sempre chegada,
fogo contínuo em meu sexo primaveril
é que prova: sou tua, sou tua, sou tua.
Lua nova espie-me. Sou tua noite nua.

É teu silêncio de macho
que rompe-me madrugada.
Outro dia na construção
de futura noite adocicada.

[Eliane Alcântara]