sexta-feira, 17 de abril de 2009

PREMONIÇÃO


Sou tua, Deus sabe porquê, já que compreendo
Que haverás de abandonar-me, friamente, amanhã,
E que embaixo dos meus olhos, te encanto
Outro encanto o desejo, porém não me defendo.
Espero que isto um dia qualquer se conclua,
Pois intuo, ao instante, o que pensas ou queiras

Com voz indiferente te falo de outras mulheres
E até ensaio o elogio de alguma que foi tua.
Porém tu sabes menos do que eu, e algo orgulhoso
De que te pertence, em teu jogo enganoso
Persistes, com ar de ator, dono do papel.
Eu te olho calada com meu doce sorriso,
E quando te entusiasmas, penso: não tenhas pressa
Não és tu o que me engana, quem me
engana é meu sonho.

[Alfonsina Storni]

SOU







Quando amo
Sou do meu amor
Sol da meia-noite!

DIZ



Se um dia eu deixar de ser?
Sentirás a minha ausência?
Se um dia me procurares e eu já não estiver
Que memória guardarás,
Que ficará de mim?
Guardar-me-ás em ti?
Permanecerei estrela com que falavas em noites escuras?
Estenderás a mão tentando alcançar-me?
Ou desaparecei de ti sem deixar rastro
E todos os sinais se apagarão?
Lembrar-te-ás do meu sorriso,
Da minha zanga quando explodo?
Permanecerá em ti como brasa ardente
A minha ternura, o meu amor?
Lembrar-me-ás,
Cantar-me-ás mais tarde
Quando o tempo já não for nosso?
Diz… Que ficará de mim quando eu deixar de ser?

[Encandescente]