sábado, 14 de março de 2009

MAR...VERMELHO


E o deus que entrou em nosso quarto
era vermelho e feminino e eu tive um medo de excitação
desses que a gente prende a respiração
deseja e teme e os opostos se tocam
sempre e sempre
há de vencer nosso pior.

Somos assim, pequenos magos
pequenos truques, pequeninas plumas sulférinas
coisinhas que cintilam
esferas, estrelas, espelhinhos
cartas dentro da manga, lenços coloridos
tudo em nós flutua
é sonho, abstração.

A tua fé e o meu desejo de pecado
caminham lado a lado e são
tudo que nos escraviza
nosso futuro, nosso passado
a nossa libertação.

[Bruna Lombardi]

TU


Tu pedes-me a noção de ser concreta
num sorriso num gesto no que abstrai
a minha exatidão em estar repleta
do que mais fica quando de mim vai.

Tu pedes-me uma parcela de certeza
um desmentido do meu ser virtual
livre no resultado de pureza
da soma do meu bem e do meu mal.

Deixa-me assim ficar. E tu comigo
sem tempo na viagem de entender
o que persigo quando te persigo.

Deixa-me assim ficar no que consente
a minha alma no gosto de reter-te
essencial. Onde quer que te invente.

[Natalia Correia]

CONTRADIÇÃO



Eu sou uma mulher espantada
o amor me molha toda
me deixa com dor nas costas
ele diz no fundo gostas
no fundo ele tem razão



o amor tinha de ser
mais uma contradição
tinha de ser verdadeiro
confuso e biscateiro
como em toda situação

tinha de ter remorso
e um querer e não posso
e toda essa aflição
tinha de me dar pancada
e eu cantar não dói nem nada
com um radinho na mão

tinha de fazer ameça
que é pra poder ter mais graça
como toda relação
tinha de ser dolorido

rasgar um pouco o meu vestido
depois me pedir perdão
e como em todo melodrama
terminar na minha cama
até por falta de opção.

[Bruna Lombardi]

VACUIDADE


Não são avisadores de memória que te trazem a mim
Nem gestos, palavras, cheiros, aromas ou melodias
Não é nas palmas das mãos que vejo o teu rosto
Ou nos olhos fechados que sinto os teus beijos
É na ausência que sinto o quanto te quero
É na vacuidade que sei os contornos do teu corpo
É na falta que sei que nunca posso angustiar-me
Porque estás sempre inteiro no meu sorriso
E para isso basta tão só viver

[Madalena Palma]