terça-feira, 9 de junho de 2009

AFLIÇÃO


Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

[Hilda Hilst]

SEM AR


Não entendes meu desnorteio, não imaginas o inferno em que resido.
Me sinto debilitada diante desta antítese emocional que nos separa.
Por tanto que atravessamos, e por tanto que dividimos, não sei desligar-te de minhas rotinas, já que asfixio sem tua presença.
Te amo como passado, como presente, e sem ti, meu futuro seria incerto.
Perdoa-me pelo que sou.
Aceita-me que te aceito também.
Não condene meu desarranjo de ser, não julgue minhas infelicidades.
De modo que não mudaria, também não viveria sem ti.


[Melina F.]

CONFISSÃO


Às vezes você é tão bobo, e me faz sentir tão boba, que eu tenho pena de como o mundo era bobo antes da gente se conhecer.
Eu queria assinar um contrato com Deus: se eu nunca mais olhar para homem nenhum no mundo, será que ele deixa você ficar comigo pra sempre?
Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa, eu descobri que vale a pena ficar três horas te olhando sentada num sofá mesmo que o dia esteja explodindo lá fora.
E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam.

[Tati Bernardi]