sábado, 6 de junho de 2009

AMOR









tentar chegar ao amor
é como reduzir da terceira para a segunda,
engrenar a marcha ré e pisar fundo,
é desacelerar, é querer voltar,
é desfazer as malas e voltar para casa,
é não perder o cheiro,
é não cobrir o corpo,
é não perder o tato,
é querer ficar,
é não abandonar as memórias...
tentar chegar ao amor:
pensar na primeira coisa
que deveria se esquecer.

[Cáh Morandi]

FEITIÇO


— E você, por que desvia o olhar?

(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos)

— Ah. Porque eu sou tímida.

[Rita Apoena]

E MAIS...


Quanto mais escrava
mais escrevo
pra libertar essa mulher da vida
que me habita.

[Martha Medeiros]

ENCANTO


Não me escreva estas tuas cartas grandes
Com páginas e páginas de vazio...
Nosso amor é forte e vivo,
Maior que a distância
E mais veloz que o vento;
Nosso amor não tem momento
Porque em tudo, ele é um todo,
O tempo todo em movimento...
Devo te contar um segredo
Que tive medo, até então,
De te confessar:
Das tuas cartas tudo que me treme,
Que me encanta, que me aflora,
Que desmorona tudo que é meu,
São as últimas quatro palavras...
“Do sempre, sempre, teu...”

[Cáh Morandi]