Numa destas manhãs o teu rosto levantou-se como a claridade do dia. E o teu olhar acolheu-me no leito que a madrugada contrariou. O amor tinha a forma dos nossos corpos, suados e extasiados de paixão. Lembro-me das minhas mãos tão pequenas a percorrer a tua pele sedosa enquanto ofegavas, recordo cada suspiro de prazer, cada gota transformada num grito. Deixámo-nos ficar até à tarde, como fazíamos antigamente enquanto o tempo era nosso e o amor nos saía pelos olhos. Fomos ficando abraçados num aperto de saudades como se um nó nos tivesse prendido um ao outro. Numa destas manhãs o teu rosto transformou-se naquele dia, e no dia seguinte, e no dia de hoje, e no dia de amanhã, até onde a memória o quiser levar.
[Jorge Barnabé]
[Jorge Barnabé]
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