sábado, 2 de maio de 2009
CONFISSÃO
Eu que tenho andando por aí
que tenho feito algumas coisas sem sentido
que algumas vezes não refletem o que eu sou
eu que tenho sido já tantas mulheres
quero agora te mostrar
o que tão longamente em mim se acumulou
quero agora tirar os sapatos e o cansaço
de te contar histórias inventadas
de mentir tantas histórias necessárias
a insegurança toda fantasiada
as emoções fugindo do medo
a verdade posta assim fora do alcance
eu quero te mostrar
o que tão de repente em mim perdeu o sentido
mostrar minhas marcas de nascença
te levar pra casa da minha mãe
descer as escadas, te contar
os quartos que tive, os cachorros que eu tive
eu quero te mostrar meu mal e meu veneno
Ranhuras escondidas, encontros furtivos
como sonhei nas noites e quantas febres
quantos desejos na ponta dos meus dedos
quanta ameaça de pecado e quanto medo
eu quero te mostrar que eu nem mesmo sou bonita
olhada assim de perto às vezes
e tenho momentos de um ridículo irremediável
e uma série de pequenas vergonhas
você há de notar logo o quanto eu preciso que goste de mim
o quando eu me desfaço e me arrebento
e o quanto eu tento voltar sempre inteira
você há de perceber que eu sou de uma fragilidade
meio assim, asa de passarinho
de pardal comum
e muitas vezes, não tem brilho nenhum a minha intimidade
você vai reparar minha impotência
diante de quase tudo e o medo que eu tenho
que você não goste de mim
que você saia primeiro e me deixe sozinha
atrás desse cenário mal feito
desse teatro vagabundo
que tá ameaçando cair
[Bruna Lombardi]
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