segunda-feira, 16 de março de 2009

POEMA



Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplendida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas,
folhas dormindo o silêncio
a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
insustentável, único,
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das cisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério
- E o poema faz-se contra a carne e o tempo.

[Herberto Helder]

Um comentário:

  1. Beijão menina querida.
    Seu Blog é excelente, vc uma garimpeira de mão cheia, dando um show em blogueiros de muitos anos de estrada.
    Parabéns...
    Bjs do ZC

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